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Um abrigo (sem endereço). Por que?

  • Foto do escritor: Paula Pereira
    Paula Pereira
  • 14 de abr. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de fev. de 2022



Tudo muito secreto, muito misterioso. O abrigo que eu queria conhecer não tinha endereço e antes de me explicar "como" eu poderia ajudar, a dona do espaço marcou um encontro comigo em um parque público. Achei esquisito e, ainda por cima, no dia do encontro, acabei não vendo gato algum.


Pois é, tive a ideia de começar a fazer um trabalho voluntário aqui em Odessa- uma forma de me sentir mais útil e também de, quem sabe, dar um "upgrade" no meu russo. "Por qual causa trabalhar?" Não tive dúvidas: causa animal. Eu tenho sentido muita falta dos meus gatinhos e aqui, com tantos gatos vivendo nas ruas, com certeza há muitos precisando de ajuda.


Na internet encontrei os dados de um "suposto" abrigo que está localizado no bairro onde moro. O abrigo tinha um nome simples "Cat's flat". No site apareciam as fotos de alguns animais e constava o nome, telefone e link da página pessoal da "proprietária" do abrigo.


"Hm... mas por que o abrigo não divulgou o próprio endereço?", "Por que o contato oficial é a página pessoal da proprietária (no Facebook?)".

Estranho. Arrisquei um contato mesmo assim.


A troca de mensagens com Tatiana, a dona do abrigo, envolveu algumas surpresas. Na minha primeira mensagem, me apresentei em russo e de cara apontei que também falo outros idiomas, na expectativa de que isso facilitasse a comunicação. Logo a resposta chegou. Curta e simples: "Hello. I know English... little". Ah, senti como se tivesse tomado um banho de água fria; rapidamente toda aquela empolgação para fazer algo pelos gatinhos se resumiu a um problema aparentemente "essencial": não falamos um mesmo idioma.


Porém, alguns minutos mais tarde, recebi uma notificação sobre a continuação da resposta de Tatiana e admirei que, apesar da óbvia dificuldade em se expressar, ela tomou a atitude de usar um tradutor online para poder me dizer: "Thank you for loving the animals! I see that you are a journalist telling about Odessa. I'm ready for cooperation! I am ready to tell and show a lot related to animals" ("Obrigada por gostar de animais. Eu vejo que você é jornalista e fala sobre Odessa. Estou pronta para cooperar, mostrar e falar muitas coisas sobre os animais!").


A atitude e preocupação genuína de Tatiana mereceu minha atenção. Claro, eu queria conhecer o abrigo, ver em que condições esses animais vivem e como eu poderia ajudar. Porém, o que Tatiana me propôs foi de nos encontrarmos num parque público para "discutirmos tudo antes"... e lá fui eu com Lisa - minha amiga e professora de russo que auxiliou no diálogo.


A aparente frieza e distanciamento de Tatiana, de repente, foi dissolvendo-se enquanto conersávamos. Conhecê-la e ouvi-la contar sobre a situação dos gatos de rua me fez ter uma visão diferente sobre o que são esses abrigos, como eles funcionam e que lugar os gatos ocupam no coração dos "Odessitas".


 

Abrigos


Na minha cabeça, um abrigo para gatos devia ser algo parecido com uma ONG: teria endereço oficial, funcionários registrados, um CNPJ, um website com logo e algo mais do tipo. Mas não. Tatiana disse que muitos abrigos são associações informais na qual um grupo de moradores se unem para ajudar os animais doando ração, medicamentos ou buscando parcerias com clínicas veterinárias. O próprio "Cat's flat" que Tatiana gerencia, é exemplo disso. Em um apartamento ela cuida de oito gatos que precisaram de atendimento veterinário e agora aguardam um novo lar. Além disso, ela também presta auxílio a abrigos de outras localidades que acabam tendo menos visbilidade e, consequentemente, recebendo menos ajuda.


 

Jornalistas, eca...


Entre as muitas coisas interessantes que Tatiana contou, teve uma que me chamou muito a atenção. Ela disse que muitos donos de abrigos não gostam de falar com jornalistas, pois o resultado obtido, geralmente, é o inverno do esperado: após a transmissão da matéria jornaística falando sobre os abrigos, o trabalho que eles realizam tratando animais e depois os disponibilizando para adoção; o que acontece é que nos dias seguintes, mais e mais pessoas aparecem em frente aos abrigos com caixas cheias de novos animais para abandonar.


Aí entendi o motivo de tanto "segredo" quanto ao endereço do abrigo- esta é a forma como Tatiana encontrou para se precaver de situações como esta e, ao mesmo tempo, continuar a prestar a ajuda necessária aos animais em situação de rua.

Enfim, meu primeiro encontro com Tatiana foi muito informativo e, claro, me sinto desafiada a produzir um conteúdo diferente sobre oa gatos de Odessa.. quem sabe algo que conscientize mais as pessoas ou as motive a cuidar dos animais, ao invés de abandoná-los.

4 Comments


b.peresim
b.peresim
Apr 23, 2021

Além de todos os problemas envolvidos em se ter um abrigo formalizado, com nome e endereço, e fora todos os motivos abordados no seu texto, a sua atitude em querer ajudar já é inspiradora!! Mesmo não falando a mesma língua como gostaria, há algo maior que sempre nos conecta com as pessoas pelo mundo todo: o amor aos animais ♡

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b.peresim
b.peresim
Apr 23, 2021
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Parabéns pela iniciativa!!!

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ilamaria.correa
ilamaria.correa
Apr 14, 2021

Legal. A preocupação em não disponibilizar endereço das ONGs também acontece aqui em Jundiaí. E o esquema de trabalho é bem parecido, com pessoas voluntárias, chamadas tutores ou cuidadores.

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ilamaria.correa
ilamaria.correa
Apr 14, 2021
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Ou melhor, protetores de animais.

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