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Um acesso ou 5 agulhadas?

  • Foto do escritor: Paula Pereira
    Paula Pereira
  • 27 de jan.
  • 2 min de leitura

“Um acesso ou cinco agulhadas?”

Respondi com um veemente “Cinco agulhadas, com certeza”. No que a enfermeira me olhou surpresa. Provavelmente não sabia se eu brincava ou era louca. Não foi preciso que ela perguntasse, o olhar dela destravou as reticências em mim: “… tenho pavor de ficar com o acesso no braço, medo de mexer depois.”


“Louca”, ela deve ter pensado. Mas pelo menos meu problema não era o medo da agulha, como provavelmente costuma ser com outros pacientes. Meu incômodo era pensar que meu braço ficaria imóvel e pelado. Com o acesso conectado, eu não conseguiria trocar confortavelmente as páginas do livro que levei para ler pelas próximas duas horas, nem conseguiria usar o celular sem desejar que meus dedos fossem mais longos e firmes. E tampouco conseguiria cobrir meus braços com o agasalho, debaixo do enorme e potente ar condicionado.


Falei com tanta segurança, mas caminhei de fininho até meu assento, pensando se tinha feito a coisa certa; não por causa das agulhadas, mas devido à quantidade de material que ela teria que jogar no lixo por eu não aguentar o acesso venoso. “Cinco agulhas ou um único acesso no lixo?” Tem pensamentos que nos cruzam de tal forma… e a gente não sabe de onde eles vêm.


Sentei-me. Depois de mim chegaram mais oito, três delas “bem grávidas”. “Será que também estão aqui para fazer teste de intolerância à lactose?… Nah, deve ser outra coisa”. Mas a salinha era a mesma e todos nós (pois tinha um senhor também), iríamos passar frio juntos fazendo exames de sangue específicos.


A enfermeira veio fazer a primeira coleta. A segunda (já no outro braço). A terceira. A quarta, revezando sempre… Na quinta, ela me disse: “Você é muito corajosa. Eu tenho medo de agulha, imagina se precisam me furar cinco vezes! Sorte a sua que você tem veia”. Bem pensado, esse pensamento não me cruzou na hora: se não “tivesse veia”… aí, quantas furadinhas eu teria nos braços? Mas “corajosa” não é o que descreveria minha escolha. Ela disse isso porque não sabe o quanto minha decisão veio do “pavor” que eu tenho de ver a agulha “parada” ali no braço…


Olhei à minha volta e vi que só eu havia optado pelas cinco injeções. Pra mim, corajosos eram todos os outros.

 
 
 

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