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Vida e verão na Ucrânia durante a pandemia

  • Foto do escritor: Paula Pereira
    Paula Pereira
  • 24 de jul. de 2021
  • 4 min de leitura

Desde que cheguei à Ucrânia, em outubro de 2020, não vivenciei a pandemia de COVID-19 com a mesma seriedade ou rigorosidade com a qual ela é tratada no Brasil. Claro, por algumas semanas os restaurantes só puderam trabalhar em modo delivery, academias e cinemas ficaram fechados e todo mundo é (ou era) obrigado a usar máscaras em ambientes fechados. A realidade, porém, é que, pelo menos aqui em Odessa, as regras não são levadas a sério pela grande maioria e falta fiscalização.


Avisos existem

Atualmente, na porta de lojas, restaurantes e shopping centers você provavelmente ainda vai encontrar um cartaz que diz que é necessário entrar usando máscara; mas não se assuste ao reparar que, talvez, a vendedora não esteja usando máscara ou, como parece mais usual, que a máscara esteja no pescoço.


Mensurar sua temperatura na entrada? Ser obrigado a usar álcool gel? Nada disso eu vivenciei aqui! Ando com meu álcool gel na bolsa e o uso sempre que me desloco pela cidade, principalmente se faço uso do transporte público, entretanto, nesses últimos nove meses aqui, não presenciei nada similar. É meio que cada um por si, com sua própria consciência. "Quer se proteger, proteja-se".



No transporte público, até dois meses atrás quando estávamos numa "fase mais dura" de enfrentamento ao COVID, só era possível entrar no trolleybus, no tram e no ônibus se você estivesse usando máscara. Se algum adolescente se fizesse de mal entendido, com certeza ia ouvir do condutor uma bela chamada de atenção. Hoje em dia, vai ver quem é que usa máscara! Quase ninguém e nem o motorista, mas o cartaz dizendo que é obrigatório continua lá. Aliás, até já passei por uma situação engraçada: eu queria tirar uma foto do tram que passava pela avenida e quando a condutora me viu (meio que escondida atrás de um poste para o "clique perfeito"), ela subiu a máscara (do pescoço para cobrir a boca e o nariz).


Conscientizar o quê? Impor o quê?

É um assunto delicado, "tema quente mundial", mas durante este tempo aqui, passei a entender melhor essa "percepção" que os ucranianos tem sobre a COVID-19. E olha, acho difícil julgar. Estamos falando sobre o país mais pobre da Europa, talvez um dos mais corruptos e, com certeza, um país ainda em guerra. Aí você quer convencer o indivíduo que ele "precisa" se proteger do "invisível" e levar uma rotina preso em casa ou lambendo o suor que desce à boca enquanto ele usa máscara? Difícil. Ele tem outras preocupações em mente.... mesmo que, às vistas dos outros, ele pareça não ter preocupação nenhuma.


De qualquer forma, cada país, cada governo, tem um jeito de lidar (ou não) com a situação... seu povo também. E embora eu acredite que o governo deva ser quem "nos guia e nos orienta" sobre como "passar por uma pandemia sem morrer", é o "senso comum do povo" que paira e reina no dia-a-dia. Enquanto não houver fiscalização e ninguém for considerado "autoridade" para impor qualquer regra, as pessoas vão continuar fazendo o que elas bem entendem... seja para usar ou não a máscara, para usar ou não o álcool gel, para manter ou não o distanciamento. Aqui vamos de "roleta-russa"...


O argumento da "gripezinha" também existe aqui e ela ganha muita força entre aqueles que pegaram COVID e realmente só tiveram os sintomas mais leves. Com a ajuda deles, esse argumento se espalha e mais pessoas vão deixando de ter os cuidados que costumavam ter: "Se é só uma gripezinha, deixa acontecer". E não é que eles (ucranianos) não acreditem que COVID existe, mas é que vista a realidade daqui, todas essas medidas tomadas mundo a fora parecem "exageradas".


De verdade, a pandemia de COVID-19 não atingiu a Ucrânia como o Brasil e fica até difícil explicar como um país com tão poucas leis de combate à pandemia não registrou dados mais alarmantes. Será que o povo aqui tem alguma "resistência maior ao vírus"? Será que o fato de existirem calçadas tão largas e tantas praças e parques pela cidade faz com que as pessoas se aglomerem menos? Gente, estamos falando de um país que resolveu afrouxar as regras bem na chegada dos feriados religiosos no começo deste ano (já que o Natal aqui é mais celebrado em 7 de janeiro do que em 25 de dezembro)...


"Mas então as pessoas não ficam doentes? Os hospitais não ficam lotados?"


Claro que sim! As pessoas ficam doentes e, principalmente em cidades menores, houveram problemas por falta de leito, porém, já desde 9 de junho, a Ucrânia passou a ser considerada zona verde! A pandemia não acabou, pouquíssimas pessoas tomaram vacina, as leis afrouxaram e os casos continuaram a diminuir após o pico da segunda onda (lá por meados de março 2021). Vai continuar assim? Não sei, mas há quem cogite uma terceira onda lá por setembro - possíveis consequências de um verão agitadíssimo com todo mundo curtindo ruas, parques, shoppings e cinemas.


De qualquer forma, não posso negar o "alívio" que foi me mudar pra cá e finalmente poder deixar meu corpo e mente passear, visitar parques, praias e tantos outros pontos turísticos enquanto o mundo todo continuava lastimavelmente contando as vítimas da COVID. A questão é que aqui, dada à forma e condições que a população vive, tem sido SIM possível levar uma vida quase "normal"... aquele "normal" que no Brasil não se vê há tempos.


Taxa de vacinação na Ucrânia

Os últimos dados da Our World In Data, datados de 23 de julho de 2021, informam que até o momento somente 6,8% da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto que 3,8% da população foi totalmente imunizada. E não é que haja tamanha INdisponibilidade de vacina, o que observo é que ninguém aqui está com pressa para se vacinar contra COVID-19. "Vacinar pra quê?". Claro, vacinar para poder viajar de forma mais tranquila é uma motivação, mas para uma aparente "grande maioria", aqui o risco de contrair COVID ainda não causa tanto espanto.



Parcela de pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina COVID-19

Comparação entre taxas do Brasil e da Ucrânia:


O verão da Ucrânia está aí, quente, queimando e Odessa lotada de turistas. Chega a ser bonito ver as pessoas retomando suas atividades e curtindo a vida e as férias como se não houvesse amanhã, como se não houvesse pandemia, mas esse descuidado todo, PODE SIM ter consequências graves.


1 Comment


Lys Silva Conceição
Lys Silva Conceição
Jul 24, 2021

Eu tive essa conversa com minha amiga brasileira que mora na Rússia e o que eu percebo é que transferimos a urgência de vacina e lockdown do Brasil pros países que vivemos. Encaramos a pandemia com os olhos de um país que chegou a ter média de 3, 4 mil mortos por dia, um desgoverno e descaso total com a população. Mas aí a gente tem que lembrar que tá vivendo num país que tá registrando média de 27 mortos, que o governo tomou ações de lockdown restritissimas, fechando inclusive transporte público, que transmitiu aulas para todas as séries pela televisão para que todos continuassem tendo acesso ao currículo básico e que iniciou e incentiva a vacinação, exatamente para se…

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